De acordo com o Anuário da Segurança Pública, o Estado apresentou elevação de 7,3% nas notificações deste crime, subindo de 1.404 casos para 1.507
11/09/2019 - 20h45min
Atualizada em 11/09/2019 - 21h51min
Anderson Aires
ANDERSON AIRES
Amargando a marca de Estado com maior número de registros de injúria racial no país em 2018, o Rio Grande do Sul busca soluções para enfrentar esse tipo de crime. Na contramão de reduções importantes em homicídios, latrocínios e estupros, o Estado apresentou, de acordo com o Anuário da Segurança Pública, elevação nas notificações de injúria racial se comparado a 2017, subindo de 1.404 casos para 1.507 — aumento de 7,3%.
Diretora do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulneráveis, a delegada Shana Hartz classifica os números do Rio Grande do Sul como alarmantes, mas relaciona o aumento a um cenário onde as vítimas não estão mais sofrendo caladas, alertando a polícia sobre situações que antes ficavam "escondidas":
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— As pessoas estão mudando uma questão cultural e não aceitando mais esse tipo de crime, o que é bom. Os dados, apesar de altos, vêm nos mostrando a consciência da população de que isso realmente está errado, que caracteriza um crime que merece punição.
O coordenador de Igualdade Étnica e Racial da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do RS, Jonas Bohrer, também acredita que o número elevado de registros ocorre em razão do encorajamento da população. Bohrer cita ações junto à população negra e a grupos vulneráveis como ferramentas importantes na busca pela igualdade social.
Segundo ele, esse movimento possibilita mapeamento que ajuda no combate ao delito.
— Com isso, a gente tem subsídios para articular uma política pública para combater esses crimes, por meio de um decreto ou um projeto, com a assistência da sociedade — pontua.
Representatividade
O advogado e escritor Antônio Carlos Côrtes afirma que, além do aumento no número de pessoas encorajadas a denunciar, o histórico do Rio Grande do Sul em relação a casos de racismo e o que ele cita como uma "uma onda racista impregnada no país" ajudam a explicar a posição do Estado em relação a registros de injúria racial. No entendimento de Côrtes, a representatividade da população negra em posições de destaque nos governos municipal, estadual e federal e as ações preventivas são importante no enfrentamento a esse tipo de crime:
— Se tivéssemos essa representação de 15% em todos os escalões de governo, consequentemente teríamos uma mudança.
A Polícia Civil estima inaugurar no segundo semestre de 2020 a delegacia de plantão para crimes contra vulneráveis em Porto Alegre. Pessoas que foram vítimas em razão de sua condição racial, sexual e de gênero estão entre as que serão atendidas no local. A corporação pretende instalar a Delegacia de Combate à Intolerância e Preconceito Racial no mesmo prédio no bairro Santana, na Capital.
Shana cita a criação da delegacia especializada como movimento importante no combate a esse tipo de crime, mas estima que os registros tendem a aumentar com as vítimas sentindo-se mais seguras em notificar:
— No momento em que há um serviço específico por esse público, as pessoas se sentem encorajadas e acolhidas. Então, a tendência é de aumentar o índice de registros.
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Investigação
Shana destaca que, em casos de injúria racial, as vítimas têm de procurar a polícia reunindo o maior número possível de provas, sejam documentais ou testemunhais. Segundo a diretora, esses elementos ajudam na fase de investigação e no combate à impunidade. Ela salienta que um "número real" dos casos ajuda na elaboração de políticas públicas de combate a esses crimes:
— A subnotificação é muito ruim, porque ela nos mostra uma marca errada da criminalidade. No momento em que a gente tem um índice correto de onde está acontecendo e como está acontecendo a violência, consegue canalizar políticas de segurança pública por fazer um combate mais específico e mais preventivo.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2019/09/entenda-por-que-o-rs-e-lider-em-registros-de-casos-de-injuria-racial-ck0fwub2o01pp01tgi1xg5yj5.html
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Rio Grande do Sul é o Estado com mais casos de injúria racial no Brasil, segundo Anuário de Segurança Pública.
Levantamento foi divulgado nesta terça-feira
10/09/2019 - 22h52min
Atualizada em 10/09/2019 - 23h21min
GaúchaZH
GAÚCHAZH
O Rio Grande do Sul é o Estado com maior número de ocorrências de injúria racial, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta terça-feira (10). A pesquisa mostra que o Rio Grande do Sul registrou 1.507 casos em 2018. O número representa alta de 7,3% em relação ao ano anterior, quando foram anotados 1.404 casos — também o maior do Brasil na época.
Em todo o país, foram registradas 7.616 ocorrências de injúria racial em 2018, 20,6% a mais do que em 2017, quando houve 6.195 casos.
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Os dados compilados no Anuário são enviados pelas secretarias estaduais de Segurança Pública e de Defesa Social, Polícias Civil e institutos de segurança de cada unidade da federação.
Região Sul tem quase metade dos casos
Em segundo lugar na lista, o Paraná registrou 1.239 ocorrências em 2018. No ano anterior, foram 1.289.
Em terceiro lugar no ranking está o Rio de Janeiro, com 1.073 casos de injúria racial. Em quarto, Santa Catarina com 1.060 casos em 2018, sendo que no ano anterior teve apenas 337 ocorrências.
Juntos, os três Estados da Região Sul apresentam 3.806 ocorrências, quase metade do total de casos de todo o país.
O que significa cada crime
Injúria racial
Ofender a dignidade utilizando elementos de raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Uso de xingamentos referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima, entre outros. Pena: de um a três anos e multa.
Racismo
Ato discriminatório dirigido a determinado grupo ou coletividade: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou às escadas de acesso, negar ou impossibilitar emprego em empresa privada, entre outros. Pena: pode chegar até cinco anos e multa.
Como denunciar
Crimes de racismo e injúria racial podem ser denunciados em qualquer delegacia de polícia do Estado.
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DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Registros de injúria racial aumentam mais de 200% em Santa Catarina
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em um ano o número passou de 337 para 1.060
19/11/2019 - 16h52 - Atualizada em: 20/11/2019 - 08h04
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Por Ângela Prestes
angela.prestes@somosnsc.com.br
Gráfico mostra casos de injúria racial no país
(Foto: Infografia NSC)
Santa Catarina tem a maior taxa de registros de injúria racial do Brasil. Foram 15 casos denunciados a cada 100 mil habitantes no ano de 2018. Em relação aos números absolutos, o Estado fica em 4º lugar no ranking, com 1.060 registros. Um aumento de 211% em relação ao ano de 2017 que teve 337 denúncias. Considerando a taxa o Estado catarinense é o primeiro, seguido pelo Rio Grande do Sul (13,3) e Mato Grosso (12,3). Já em números absolutos quem ocupa o primeiro lugar é o Rio Grande do Sul (1.507), seguido pelo Paraná (1.239) e Rio de Janeiro (1.073). Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Para a gerente de Políticas para Igualdade Racial e Imigrantes do Estado de Santa Catarina, Regina Célia da Silva Suenes, apesar de importantes avanços em diversos setores do desenvolvimento, ainda persistem as desigualdades raciais, étnicas e de gênero.
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— Santa Catarina é um Estado eminentemente branco, que perpetua os resquícios históricos de exclusão e discriminação racial. Os dados mostram que o Estado ainda está muito aquém de uma realidade ideal em termos de igualdade, principalmente em relação à diferença salarial, de funções de liderança que não são exercidas pelo negro, o pouco acesso a educação de ensino superior, ao alto índice de suicídio entre jovens negros, entre outros.
Região Sul no topo do ranking
Em todo o Brasil, a variação foi menor. O número passou de 6.195 em 2017 para 7.616 no ano passado, um aumento de 20%. As regiões Sul e Sudeste estão no topo da lista dos Estados brasileiros com mais registros de casos de injúria. Para a coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) e professora da educação quilombola, Maria de Lourdes Mina, os dados têm relação com a imigração europeia.
— Está relacionado com a formação dos Estados. Santa Catarina é um dos mais racistas, e tem uma concepção eurocêntrica. Pra mudar isso é preciso ter uma política séria de reparações. Reparações por todo o sofrimento, todos os assassinatos da população negra. Se você se debruça na história de como foi a perversidade no período da escravidão vai entender que o Estado deve essa política de reparações.
É o acesso a educação de qualidade, a moradia adequada, entre outros, que mudará esse cenário. Segundo Regina, hoje, apesar dos significativos avanços em relação à promoção de direitos a população negra, ainda se trata de uma minoria que tem acesso a eles.
— A ideia de inferioridade do negro é fundamentada por esta constituição escravista por um lado, da manutenção de uma condição social de subalternidade do outro, elementos que levam a sociedade brasileira a reproduzir práticas racistas e desiguais que só serão superadas com um processo de profunda transformação social. Portanto, enquanto Estado se pode contribuir para este desafio com ações que possibilitem diagnóstico, planejamento, articulação, que são fundamentais para a construção de políticas públicas para a população negra.
Liberdade para denunciar
O aumento no número de registros pode, de certa forma, representar um sentimento maior de liberdade para fazer a denúncia. Esse avanço é fruto de trabalhos como o do Movimento Negro Unificado, que atua há 26 anos em Santa Catarina.
— É resultado da identificação da população negra enquanto negros. Hoje temos um debate muito mais aberto e muito mais intenso. Não podemos negar que o debate está mais próximo das pessoas que se fortalecem para fazer as denúncias, explica Maria de Lourdes.
Para Regina, é fundamental denunciar para resguardar a cidadania e a dignidade da população negra, além de serem ferramentas que engrossarão os números que comporão o diagnóstico para a construção de Políticas Públicas no Estado.
— A falta de Políticas Públicas efetivas em relação à população negra incorre em uma abertura para fortalecer a invisibilidade e o racismo estrutural existente. Na verdade o racismo sempre esteve presente, o número de registros só desvenda uma demanda reprimida e o mito da democracia racial.
O importante é continuar discutindo o assunto e trazer para a frente do debate a realidade da população negra.
— A discussão do tema é uma tarefa que não é só do movimento negro, mas de toda a sociedade. As vidas negras importam, são elas que estão aí na base da sociedade, que construíram e continuam construindo esses Estados, conclui Maria de Lourdes.
Diferença entre racismo e injúria racial
A injúria racial acontece quando alguém usa a origem, etnia, raça ou religião para ofender a honra de outra pessoa. Ela está prevista no artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal: "Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência". A pena é de um a três anos de prisão.
Já o crime de racismo, inafiançável e imprescritível, se caracteriza por uma discriminação generalizada a um grupo de pessoas. A Lei do Racismo foi sancionada em 5 de janeiro de 1989 e a pena varia entre 1 a 5 anos de prisão, de acordo com o caso.
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13/11/2019 - 15h43 - Atualizada em: 13/11/2019 - 15h44
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Por Ângela Prestes
angela.prestes@somosnsc.com.br
Lucas
Por Lucas Paraizo
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Uma nova edição da pesquisa de desigualdade por cor ou raça, feita pelo IBGE, mostra um cenário de grandes diferenças entre a população branca e os negros e pardos em Santa Catarina. Conforme o levantamento, em 2018 a população de cor ou raça branca era de 5,6 milhões de pessoas no Estado, contra uma população de cor ou raça preta ou parda de 1,3 milhão.
A desigualdade mostra-se mais sutil em alguns pontos, como no acesso à telefonia móvel e à internet, por exemplo, mas ainda é grande em outros fatores importantes. Conforme a pesquisa, na média o rendimento per capita da população negra ou parda em SC é 39,2% menor do que o da população branca. Em valores mais precisos, isso representa uma diferença de R$ 1700 para R$ 1221 por mês.
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IBGE
(Foto: Arte DC)
Da mesma forma, a população negra em Santa Catarina tem uma taxa de desemprego maior: 8,9% contra 5,6% em relação aos brancos. Mesmo assim os dados do Estado ainda estão entre os melhores do país.
Na comparação com 2012, houve redução na desigualdade de rendimentos entre brancos e negros ou pardos em Santa Catarina. Naquele ano, os brancos tinham rendimento médio 42% superior.
IBGE
(Foto: Arte DC)
A pesquisa aborda também outros vários pontos em que a desigualdade fica visível, como na participação da população preta ou perda na lista dos maiores e menores rendimentos de Santa Catarina (veja no gráfico abaixo). Na comparação com a mesma pesquisa feita em 2012, no entanto, o IBGE apontou um crescimento na renda dos negros no Estado, subindo 5.9% na participação dentro do grupo dos maiores rendimentos.
Diminuiu também nos últimos seis anos o percentual de catarinenses negros e pardos abaixo da linha pobreza, com uma queda de 6,2%. No entanto, negros ainda são a maioria entre os moradores do Estado que vivem com menos de R$ 420 por mês.
Um destaque positivo ficou com Florianópolis, que entre as capitais do Brasil é a terceira com a menor desigualdade de rendimentos entre brancos e negros ou pardos.
IBGE
(Foto: Arte DC)
Na parte da educação, a pesquisa do IBGE aponta para avanços em Santa Catarina na alfabetização entre todas as áreas da população, no entanto, a taxa de analfabetismo segue maior entre negros e pardos em relação aos brancos. Mesmo assim, o Estado tem números bem melhores que a média nacional: 4,6% de analfabetismo entre os negros em SC contra 9,1% no Brasil.
Os avanços em SC aparecem em todos os níveis da educação, mas com desigualdades ainda presentes no acesso ao ensino básico e superior:
IBGE
(Foto: Arte DC)
Na representação política, Santa Catarina tem alguns dos piores índices do Brasil para a população negra ou parda: somente um deputado federal e um deputado estadual. Além disso, o Estado teve a menor proporção do país de candidatos pretos ou pardos nas eleições do ano passado: 12,4%, empatado com o Rio Grande do Sul.
Entre os poucos candidatos, o IBGE apontou também que o investimento na campanha foi muito menor. Das 15 candidaturas em SC que tiveram receita acima de R$ 1 milhão, nenhuma era de uma pessoa negra ou parda.
IBGE
(Foto: Arte DC)
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Dagmara
Por Dagmara Spautz
19/11/2019 - 15h37 - Atualizada em: 20/11/2019 - 12h30
Imagem histórica da Ku Klux Klan nos Eua, em 1948 (Reprodução)
Imagem histórica da Ku Klux Klan nos EUA, em 1948 (Reprodução)
Um dado em especial chama atenção na pesquisa da antropóloga Adriana Dias, que mapeou grupos neonazistas no Brasil: a identificação de duas células da "Ku Klux Klan" em Santa Catarina. Não há meias palavras para designar o que representa a organização, que nasceu nos Estados Unidos no século 19. É um grupo que prega a supremacia branca. Uma organização racista.
Racismo é crime no Brasil desde a Constituição de 1988. Foi regulamentado em lei, que prevê pena de prisão. Integrantes de um grupo que defende “superioridade e pureza racial” em SC são muito mais do que uma associação de mau gosto. São criminosos.
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A imagem de um membro da Ku Klux Klan foi usada para ilustrar os cartazes colados em 2017 em um poste e na parede da casa de um ativista e advogado negro, Marco Antônio André, Blumenau. Dois anos depois, o Ministério Público ainda não denunciou ninguém pelo crime – embora a Polícia Civil tenha identificado e prendido suspeitos.
Marco Antônio disse à coluna que saber da existência de células da Ku Klux Klan em Santa Catarina – mais especificamente em Blumenau, onde ele mora e atua – não o surpreende. Estamos em um país profundamente racista, lembra o advogado.
Intolerância levada a sério
É necessário que as autoridades tratem a existência de organizações de supremacia racial em Santa Catarina com a seriedade que o assunto merece.
Em 2017, nos Estados Unidos, a pequena cidade universitária de Charlottesville assustou o mundo ao sediar uma marcha de centenas de homens e mulheres gritando palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus. Uma cena “surreal”, como descreveu o repórter da BBC Brasil, Ricardo Senra.
A marcha neonazista de Charlottesville surpreendeu porque deu cara a um movimento que rondava pelas sombras. E que jamais foi extinto.
Temos no Brasil um racismo e preconceito enraizados e uma tarefa hercúlea, para superar séculos de intolerância. Não se deve amenizá-los sob o discurso da liberdade de expressão.
Ao discorrer sobre democracia, o filósofo Karl Popper falou no paradoxo da tolerância. Disse ele que, ao aceitar os extremos da intolerância alheia, podemos ter como resultado final o aniquilamento da própria tolerância.
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Estado é o segundo do país com mais células. Dos três grupos no Brasil que se identificam como seções locais da Ku Klux Klan, dois estão em Blumenau
19/11/2019 - 11h34 - Atualizada em: 20/11/2019 - 08h53
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Lucas
Por Lucas Paraizo
lucas.paraizo@somosnsc.com.br
Em 2014 a Polícia Civil apreendeu em Itajaí materiais que faziam apologia ao nazismo
Em 2014 a Polícia Civil apreendeu em Itajaí materiais que faziam apologia ao nazismo(Foto: Victor Pereira, BD, 2014)
Santa Catarina é o segundo Estado do Brasil com mais grupos neonazistas ativos na internet. A afirmação está nos números de uma nova pesquisa brasileira que aponta o crescimento dos movimentos de inspiração nazista no Brasil. Conforme o levantamento, Santa Catarina tem 69 células (grupos de três a 40 pessoas com ideais e atividades comuns) em atividade, atrás apenas de São Paulo, onde foram identificados 99 grupos.
A pesquisa foi feita pela doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Adriana Dias, que pesquisa o discurso neonazista e supremacista branco nas redes há 16 anos. O levantamento foi feito com técnicas de programação para identificar pessoas que baixam grande quantidade de material nazista na internet, que participam de fóruns e redes sociais voltadas ao tema ou que são líderes de blogs que propagam o conteúdo.
— São vários tipos de bancos de dados que analisam várias questões. O principal é a quantidade de material que essa pessoa lê sobre o tema. Ela tem que ter lido pelo menos o equivalente a 100mb de arquivos neonazista. Então a gente tem um cálculo sobre margem de erro, e também uma consideração a respeito de quantos IPs uma pessoa pode usar, em casa, no trabalho, na casa dos pais, etc. A partir daí a gente vai vendo manifestações desses grupos publicamente ou em fóruns — explicou a pesquisadora em entrevista ao NSC Total.
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Mesmo que com algumas divisões, de forma geral os grupos promovem a intolerância com base em alguns ideais ligados ao nazismo de superioridade e pureza racial. Essas ações envolvem violência, humilhação e discriminação através da fabricação, comercialização e distribuição de propagandas de defesa do pensamento, como os cartazes que já viraram caso de polícia em Santa Catarina nos últimos anos.
Entre os 69 grupos identificados em Santa Catarina, a pesquisadora chama a atenção para a existência de seções locais da Ku Klux Klan (KKK) — organização nascida nos Estados Unidos com ideais supremacistas e nacionalistas. No Brasil inteiro foram identificados três grupos que se identificam como seções da KKK: um em Niterói (RJ) e dois em Blumenau, no Vale do Itajaí.
— Há dois materiais da KKK circulando com referência a Blumenau. Um inclusive foi colocado nas ruas, outro apenas circulou na internet. São dois materiais bem diferentes entre si. A KKK tem dezenas de divisões e linhagens, com linguagens e símbolos diferentes. O símbolo que foi para as ruas em Blumenau é da KKK da América, um grupo mais novo, surgiu depois dos anos 1980. O outro grupo que circulou na internet é mais ligado à KKK da ordem da Camélia Branca, que tem uma linguagem completamente diferente e é ligada mais ao luteranismo.
A pesquisadora aponta que, de forma geral, os grupos no Brasil não possuem grande relação entre si ou contato. O mesmo vale para as duas seções que existiriam em Blumenau. Para Adriana, são grupos diferentes e que podem não se conhecer ou se dividiram por alguma briga interna — algo que ela diz ser comum na criação das células pelo país. Uma das organizações identificadas em Blumenau inclusive se identifica como “o primeiro grupo KKK no Brasil”.
— A KKK tem uma base religiosa muito forte, um ódio muito forte ao negro, ao judeu, e uma prática muito violenta. Então esses dois grupos, eu espero que sejam pequenos, pelo o que percebi são células pequenas, não devem ter mais do que 10 ou 12 pessoas cada uma. Espero que não tenham potencial de crescimento. Se elas tiverem, tendem a ser bastante violentas, porque a KKK é violenta — alerta a antropóloga.
Adriana explica que cada grupo funciona de uma forma, com grandes diferenças de uma célula da Ku Klux Klan — com ideais religiosos — em relação a um grupo supremacista branco nacionalista, por exemplo. O que une todos é a presença na internet. Todos os grupos mapeados pela pesquisadora fazem o chamado ciberativismo, outras células que não têm presença online não foram analisadas pela antropóloga.
— Eu acredito que o número seja ainda maior do que eu localizei. Esses grupos têm gente mais nova, mais velha, mulheres que desempenham funções diferentes. E fazem ciberativismo, encontros, revistas, mentoria de jovens brancos, atividades como rituais e cultos e até encontros para pancadaria — explica.
Nazismo em Santa Catarina
O histórico de relações de Santa Catarina com o movimento nazista não é novo. Um trabalho anterior da pesquisadora Adriana Dias apontou, em 2009, que 45 mil simpatizantes do nazismo moravam em SC. Voltando no tempo, em 1928, cinco anos antes de Hitler tomar o poder na Alemanha, a primeira célula do partido nazista no Brasil foi fundada em Timbó, no Vale do Itajaí. Seria a primeira fora da Alemanha e, segundo os registros históricos, chegou a ter 528 filiados.
De volta ao século atual, em 2017 a Operação Hateless, da Polícia Civil de Blumenau, identificou cinco pessoas que estariam ligadas ao aparecimento de diversos cartazes com propaganda nazista na cidade. Dois deles estavam ligados a outro caso na região, em 2014 na cidade de Itajaí, quando cartazes comemoraram o aniversário de Hitler. Recentemente os dois homens foram inocentados pela Justiça.
Para Adriana, nas décadas de 1930 e 1940 houve uma grande exposição dos ideais nazistas em Santa Catarina, algo que depois foi proibido mas se manteve vivo em documentos e na memória de alguns moradores.
— Essa população alimentou essa crença durante muitos anos, e depois ouviu que nada daquilo era verdade. Uma parte dessa população com certeza guardou a frustração e a esperança de que isso fosse verdade. Pode ser uma parte pouco expressiva, mas em números relativos é considerável, porque se todo esse povo se juntar o estrago é grande. É uma parte que leu e releu esses documentos da época e agora viu o espaço. As pessoas estão lendo coisas absurdas, leituras muito obtusas, essa história da terra plana, de que o nazismo é de esquerda, leituras que estão se sobrepondo à realidade e podem fazer que essa pequena parte ganhe fôlego — avalia a pesquisadora.
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Adolf Hitler
Mapa da intolerância: região sul concentra maioria dos grupos neonazistas no Brasil
14/12/2013em Sem categoria2 min read
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O crescimento do número de simpatizantes neonazistas tem se tornado uma tendência internacional. É o que aponta um monitoramento da internet realizado pela antropóloga e pesquisadora da Unicamp, Adriana Dias. De 2002 a 2009, o número de sites que veiculam informações de interesse neonazistas subiu 170%, saltando de 7.600 para 20.502. No mesmo período, os comentários em fóruns sobre o tema cresceram 42.585%.
Nas redes sociais, os dados são igualmente alarmantes. Existem comunidades neonazistas, antissemitas e negacionistas em 91% das 250 redes sociais analisadas pela antropóloga. E nos últimos 9 anos, o número de blogs sobre o assunto cresceu mais de 550%.
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Adriana Dias trabalha há 11 anos mapeando grupos neonazistas que atuam na internet e também no mundo não virtual. Devido ao conhecimento construído, a pesquisadora já prestou consultoria para a Polícia Federal e para serviços de inteligência de Portugal, Espanha e outros países.
– Veja as estatísticas do crescimento de sites com assuntos neonazistas:
Brasil
Segunda Adriana, os grupos neonazistas eram predominantes no sul do país, mas nos últimos anos têm crescido vertiginosamente no Distrito Federal, em Minas Gerais e em São Paulo. Ela vem mapeando o número de internautas que baixam arquivos de sites neonazistas e considera simpatizantes aqueles que já fizeram mais de 100 downloads. Por esse critério, seus dados de 2013 apontam que há aproximadamente 105 mil neonazistas na região Sul.
– Estados com maior número de internautas que baixaram mais de 100 arquivos de sites neonazistas (clique nos estados)
No caso de Minas Gerais, os movimentos parecem ter ganhado fôlego em 2009, como forma de responder ao assassinato de Bernardo Dayrell Pedroso. Fundador da revista digital “O Martelo”, ele era uma referência do movimento neonazista na cidade. Acabou morto em um evento no município de Quatro Barras (PR), por uma outra gangue de skinheads neonazistas que via em Bernardo uma barreira para sua ascenção.
Organização
Não é possível descrever um único percurso para ingresso no movimento neonazista. Mas há uma trajetória mais comum: “Geralmente, eles atendem ao proselitismo na juventude. O jovem em busca de uma causa acaba recebido pelo grupo, que o convencem de que o negro ou o judeu tomou seu espaço no mercado de trabalho, na universidade, etc”, explica Adriana Dias.
Os líderes dos grupos geralmente não participam das ações violentas. “São pessoas que já possuem uma condição financeira melhor e geralmente possuem curso superior. Eles conduzem o movimento e leem muito material antissemita. Possuem um alto grau de instrução e buscam se resguardar de eventuais ações judiciais”, descreve a pesquisadora.
Fonte: Agência Brasil
Tags: casos de racismo
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